Como fazer um Planejamento Sucessório?
- Foco Rural
- 4 de nov. de 2019
- 4 min de leitura
Confira o artigo publicado na Revista Novo Rural

Este mês (07/2019) marca o início desta parceria com a Novo Rural, que objetiva compartilhar com os leitores da revista impressa e do site novorural.com nossas vivências e experiências como consultores na área de Gestão dos Negócios Rurais. São mais de 20 anos no dia a dia junto com famílias, técnicos e entidades, dedicados a estudar e aprender sobre a agropecuária.
São temas oriundos desta experiência que queremos desenvolver nesta coluna. Desejamos imensamente que tudo que for abordado neste espaço possa contribuir com os leitores, ajudando a todos na gratificante e honrosa missão de promover o desenvolvimento sustentável do nosso país.
Nosso primeiro desafio é abordar a sucessão nos negócios familiares rurais. Um assunto que tem sido debatido insistentemente nos últimos anos por diversas instituições. Nosso objetivo é orientar os produtores e suas famílias quanto às dificuldades em lidar com o assunto sucessão, apresentando os pontos que devem ser entendidos e discutidos para a construção de um processo tranquilo e exitoso.
Todo patrimônio tem herdeiros, mas poucos têm sucessores
Compreender a distinção sobre esses conceitos é o primeiro passo para o êxito de um programa de sucessão. Juridicamente o termo herdeiro (a) se refere aquele que sucede na totalidade ou em parte da herança, seja por força de lei, seja por disposição de testamento, é a pessoa para a qual será transmitida a propriedade de bens ou direitos. No entanto, para a administração, sucessor (a) é aquele que sucede a outrem ou que o substitui em cargos, funções. São situações diversas, que devem ser tratadas de forma distinta, apesar de comumente estarem relacionadas a uma mesma pessoa.
Compreender a distinção desses conceitos facilita o início do planejamento sucessório nos negócios rurais e costuma ter reflexos positivos no relacionamento das pessoas envolvidas. É comum que os pais, também chamados fundadores, por terem instituído as bases do negócio atual, idealizem que seus herdeiros, ou um deles, sejam seus sucessores.
O que precisa ser entendido, é que por trás desta decisão existe uma escolha por parte dos herdeiros em relação ao seu futuro, quanto ao que desejam na vida. Portanto, a condição de herdeiro (a) é um fato, algo determinado por aspectos legais tornando-se uma condição. Quanto ao sucessor (a), sua determinação está em volta de uma decisão, de uma escolha, e se concretiza com um processo de desenvolvimento, de formação e profissionalização. Para um sucessor, muito mais do que receber um patrimônio, o que importa é receber um legado de conhecimento, valores e princípios empresariais.
A dinâmica dos negócios familiares rurais
É importante para esta discussão entender um pouco da dinâmica dos negócios familiares rurais, evidenciando as características predominantes entre as diferentes gerações. Na primeira geração temos uma família dedicada exclusivamente para a construção de um negócio, pais e filhos dedicados e comprometidos com a empresa. Temos nessa geração uma família a serviço do negócio, onde as decisões são rápidas e voltadas para o crescimento do patrimônio, sendo que na maioria das vezes os envolvidos abrem mão de benefícios pessoais em prol da ampliação dos negócios e do crescimento patrimonial.
Na segunda geração temos um grupo de pessoas que recebem um patrimônio e uma sociedade, sendo que os sócios não tiveram a oportunidade de se escolherem, ou seja, faltou a vontade livre e consciente de associar-se e assim permanecer. Evidencia-se relacionamentos familiares mais complexos, não é mais uma relação de pais e irmãos, passa a existir uma relação em grau mais distante como primos, tios, cunhados/as. Surgem interesses diversos acerca do destino do negócio que somado com a ausência de uma estrutura interna para a tomada de decisão acentuam o ambiente de conflito.
Os conflitos resultantes desse processo aumentam na medida em que as gerações se distanciam dos fundadores e trazem consigo, em maior ou menor grau, duas crises: crise de liderança e crise de identidade. O resultado disso é que poucos negócios familiares rurais permanecem saudáveis na mesma família até a terceira geração.
Para mudar esta realidade é necessário que se estabeleça um processo organizado da sucessão. A melhor orientação é que o processo de sucessão seja iniciado enquanto o sucedido estiver em plena capacidade, com energia e potência para colaborar com o sucesso do processo. É difícil identificar esse momento, já que os fundadores raramente encaram o seu auge profissional como o ponto de começar o planejamento sucessório. Por esse e por outros motivos, a sucessão é um processo demorado, complexo e delicado.
Os detentores do patrimônio são a figura central do processo sucessório, mas o que se transmite não é apenas o patrimônio, mas sim uma cultura e um modo de agir que se transformou em um negócio bem-sucedido. O grande desafio é promover a cooperação e comunicação entre gerações e administrar os conflitos.
Muitos pontos merecem discussão quando tratamos do assunto sucessão, porém o ideal é encontrarmos disposição e criarmos um ambiente positivo no meio familiar para conversarmos sobre o assunto. Aproveite a leitura deste artigo e inicie uma discussão com seus familiares, quem sabe essas poucas palavras possam ser o incentivo para uma conversa que a tempos você deseja ter com seus sócios e familiares.
Até mais!































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